A mais bela varanda para o sonho
A ilha acorda-nos estendendo o
braço de luz velada pela janela do quarto. Há sempre o canto dum pássaro
louvando o sol ou um simples piar melancólico por entre a neblina. Os deuses da
ilha são caprichosos. Choram e riem com a mesma facilidade, tornando os dias
imprevisíveis. Irão desvendar os tesouros ocultos no corpo da terra ou
escondê-los-ão na bruma? Não sabemos. Só podemos estar atentos aos sinais e
aproveitar a sua boa disposição para subir o mais alto possível e ver… Tentar
assimilar a beleza, tão intensa que chega a doer. Nesta viagem de emoções, o
olhar que mais importa é o da alma. É com ela que vemos vales, montes, lagoas e
o mar, o mar, o mar… É com ela que sentimos a morna humidade que nos envolve o
corpo, caminhamos sobre as pedras negras vindas das profundezas escaldantes da
terra e acabamos por adormecer de cansaço físico e emocional, escutando se o
vento sopra no início da noite, como se a ilha nos dissesse que nos espera no
dia seguinte, com bruma ou claridade, com chuva ou sol. Tudo nos diz que é ali,
naquela paisagem inesperada, que iremos encontrar a visão do nosso sonho,
qualquer que ele seja.
O meu sonho é verde azul, da cor
dos olhos dos pastores que tocam flauta e das princesas que choram. Na minha
história inventada existem reis tiranos, belas encostas de prados verdes e
vales profundos onde as lágrimas caem. Na terra que piso brotam flores azuis
rosa brancas e a água ferve, no desvendar de mistérios inquietantes. As gentes
sentam-se a olhar o mar durante horas, como se lhe escutassem os segredos. Na
ilha, olhei o meu sonho que me fez jorrar dos olhos água verde azul. Encontrei
a inquietação da beleza perfeita e a angústia de não poder lançar o voo sobre a
paisagem e depois guardá-la em mim, tal como a tinha sonhado, verde azul.
Mas, sabendo que não sou o meu
sonho, precisei voltar à realidade, pisando terras castanho verde prosaico, de
uma paleta limitada. Aqui, as lágrimas são de água transparente e as lendas de
castelos, mouros e heróis da cristandade. São terras de gente de outras cores.
Mas saberei sempre que, lá na ilha, está a mais bela varanda para o meu sonho. Aquela
a que voltarei muito em breve, assim queiram os deuses caprichosos de olhos
verde azul.

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