A Matrioska
Do cimo duma prateleira na estante principal da sala, ela via as pessoas que habitavam a casa. Na verdade, não sabia o que eram pessoas, apenas observava aqueles seres estranhos e os seus comportamentos. Ela era estática, uniforme, mantinha-se sossegada na sua estrutura rígida de madeira oca. Os seres da casa eram de diferentes tamanhos, tanto riam como choravam, abraçavam-se ou gritavam uns com os outros. Tudo lhe parecia muito confuso. Um dia, um dos seres mais pequenos pegou-lhe e tanto a abanou que, sem que ela percebesse como, parte do seu corpo separou-se e lá de dentro saiu uma outra que lhe pareceu igual a si. Depois reparou no tamanho e em alguns elementos da pintura exterior. Não, não era igual. Era uma outra ela, uma qualquer estranha camada que tinha saído do seu corpo. Aquela inesperada separação fez com que ficasse aterrorizada. Que aconteceria agora? Iria perder certamente uma parte importante da sua identidade. Antes que pudesse ter resposta às suas dúvidas, o peque...